Antenor Clodoaldo Alves Feitosa é um verdadeiro artista, para não dizer arquiteto. Com o nome de batismo tão comprido quanto o talento, no alto de seus 47 anos de idade, esse alagoano tem reaproveitado garrafas de refrigerante para construir a casa onde vive em Paraisópolis.
Há 23 anos, Antenor pisou os pés pela primeira vez em São Paulo. Nesse período, sua vida profissional foi dedicada à construção civil. Morou em alojamentos com outros pedreiros. Passou pelo Capão Redondo até parar em Paraisópolis, de onde nunca mais saiu.
Hoje, uma maquete feita com 2.600 tapinhas de garrafa PET enfeita o corredor que dá acesso a sua casa. Alguns números empilhados na folha de um caderno universitário indicam a somatória de garrafas utilizadas na casa. A soma alcança 16.542 unidades. “Sou muito caseiro e, por ser a favor do verde, decidi construir aqui, já que eu estava doente e não tinha muito o que fazer”, conta.
Com a ajuda do vizinho, o plástico verde tomou conta de todo o espaço. “O seu Jair, do gás, começou a juntar as garrafas para mim. No início foram 500. Eu pagava R$ 0,30 por cada uma. Com o tempo o número foi aumentando, até chegar a 300 garrafas por semana”, revela.
As garrafas estão espalhadas por toda parte: nas paredes, nas janelas, no teto e nas escadas. Mais de 300 tubos de silicone serviram de “cimento” para unir o material plástico. Parte do segundo andar foi totalmente construída pelas PET. Por ali, o verde ambienta parte da natureza representada por um pé de chuchu pendurado à janela e também por um casal de galinha da índia, acomodados num mini-poleiro. “Comprei as galinhas com a intenção de elas procriarem mais tarde”, afirma.
No quarto de Antenor, o teto está sendo revestido com garrafas. Nas paredes, figuras femininas fazem companhia ao alagoano que não é casado e não tem filhos. Nas paredes do outros cômodos, bois foram pintados nas paredes. Mas engana-se quem acredita que as imagens representam a saudade do gado na cidade interiorana de Alagoas. “Os desenhos significam a força do touro, meu signo”, confessa, e completa: “moro sozinho, mas não sou uma pessoa só”.
Há poucos meses, Antenor retornou à cidade natal. Levou aos familiares um vídeo da casa em Paraisópolis. “O povo gostou”, revela.
Um esgoto passa praticamente embaixo da casa e essa é a maior preocupação de Antenor. “Desde quando moro aqui, dizem que essa área vai sair, que vão desapropriar, principalmente agora com essas obras de reurbanização. Às vezes, penso em parar de construir. Ao mesmo tempo, não quero parar”, confessa.
Os 45 degraus, numerados, levam à cobertura, onde está ainda em construção o local que Antenor intitula como “área de lazer”. Ele revela que o espaço _em que é possível ver toda a comunidade_ é destinado à leitura e as horas de descanso.
Depois de ficar doente, por causa de um problema cardíaco há pouco mais de um ano, Antenor parou de trabalhar e, mais do que o benefício do INSS, recebeu também um marca-passo, que agora substitui o coração “enferrujado”. E seus passos parecem estar sendo marcados pelas garrafas verdes que dão sustentação _e ares de sustentabilidade_ à casa, mas que simbolizam também a esperança de uma nova vida.
“Voltar ao passado é sem jeito. A gente tem que viver o presente. Não sinto falta de nada. Quando se sente falta do passado, a gente esquece o agora. E meu agora é tudo isso que construí”, diz.
Informações: http://mural.folha.blog.uol.com.br
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