sábado, 1 de maio de 2010

São Paulo de Nando Reis

Nando do Reis: "Os Titãs eram de Marte"

por Ricardo Alexandre - 30/04/2010 - 16:06
ilustração: Gabriel Fraga 
Ao lado da banda Os Infernais, Nando Reis volta aos palcos do Citibank Hall na sexta (30/4), para uma temporada de três datas (também no sábado e domingo), na continuação da turnê do álbum Drês. A novidade é a abertura dos shows, que ficarão sob responsabilidade da banda Zafenate, encabeçada por Theo, primogênito do cantor e compositor.

Novas músicas como Ainda Não Passou, Hi, Dri!, Pra Você Guardei o Amor, Conta e Só Pra So devem figurar ao lado de Relicário, Por Onde Andei, All Star, Do Seu Lado e Os Cegos do Castelo. Em entrevista exclusiva para a revista Época São Paulo, Nando Reis falou de sua relação com a capital paulista.

Qual é a sua memória mais antiga de São Paulo?
Foi durante a Copa do México, de 1970, quando o Brasil ganhou da Inglaterra. Por algum motivo, meu pai me levou para a Rua Augusta para comemorar. Me lembro de estar sobre seus ombros, e a cidade na minha cabeça era igualzinha àquelas fotos da Lanchonete da Cidade. Me lembro da alegria das pessoas, do meu espanto em descobrir que poderíamos confraternizar com quem nem conhecíamos. Descobri o futebol, as ruas da cidade e que São Paulo não estava restrita aos meus pais, tios e colegas de escola.
O que achava da rixa entre as bandas de rock do Rio e de SP nos anos 1980?
Os Titãs não se viam exatamente como sendo de São Paulo. A gente era mais de Marte (risos). Éramos recebidos com estranhamento em qualquer lugar. Em Santos, quando subimos ao palco maquiados, de batom, queriam bater na gente. Como todo mundo, já brinquei com a rivalidade entre as cidades, mas sempre fui fascinado pelo Rio. Por outro lado, adoro SP, mas não tenho isso como bandeira, nem pessoal nem artística.
Sua música que tem mais a cara de SP?
Acho que é “Igreja”. Não apenas pelo assunto ser representativo da minha estruturação como adolescente. Quando a escrevi, falava sobre mim dentro da cidade. Meus pais tiveram uma relação estreita com os padres dominicanos. Tive uma quase paixão pela Igreja de São Domingos, em Perdizes. Mas em 1986 a música foi uma reação raivosa contra uma situação hipócrita (a censura ao filme Je Vous Salue, Marie, de Jean-Luc Godard). E era uma discussão paulistana. A música surgiu motivada por uma entrevista do Roberto Carlos apoiando a censura num jornal daqui.
Você tem cinco filhos. Qual é o melhor programa para a criançada na cidade?
Quando eu morava no Itaim, gostava de andar a pé ou de bicicleta. Lembro cada primeira vez em que levei meus filhos ao cinema. O Theodoro, meu filho mais velho e que me deu minha primeira neta (Luzia, nascida em fevereiro), foi ao cinema pela primeira vez assistir ao Pinóquio, no Cine Astor. Na cena em que o boneco e o Grilo são engolidos pela baleia, ele começou a berrar, assustado, queria fugir do cinema. Quando o filme terminou, chorava para voltar e assistir tudo outra vez.
A SP que você carrega no coração existe mesmo ou foi você quem inventou?
Acho que existe um pouco sim, eu não posso ter inventado tudo aquilo (risos). Se eu penso no sorveteiro Simão, que vendia sorvetes de chocolate na minha escola, e penso no seu display colorido e cheio de bolinhas, vejo quanto ele é fundamental pra mim. Aquele sorvete não existe mais, mas é doce do mesmo jeito, entendeu?
Onde você compra discos?
Na Compact Blue, na Rua Augusta. Foi o (produtor e apresentador de TV Carlos Eduardo) Miranda que me apresentou. Comprava na Nuvem Nove e fiquei órfão quando a loja fechou. Meu filho até chorou.
Você ouve rádio?
Só futebol. No carro ouço meus CDs.
Você pratica “air guitar” no semáforo?
Puxa, o tempo todo (risos). Meus filhos é que me alertam sobre quão ridículo eu fico, dentro do carro, com o som à toda. 
Fonte:  http://revistaepocasp.globo.com/Revista/Epoca/

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