terça-feira, 25 de maio de 2010

A Guerra da Lagosta em Icapuí





Icapuí, praia de Redonda, uma das praias mais belas do Ceará. Só não digo que é a meis bela porque não conheço todas. Mas, entre as que eu conheço é a mais bela. Lugar de artistas. Artistas do mar. Que são os pescadores artesanais, trazem consigo toda a história do lugar. Conhecedores dos mistérios das águas e do bailar dos ventos. Do mar vem o seu sustento. O mar é seu ambiente de trabalho. Comungam entre si o sentimento de liberdade em uma universo azul, do céu e do mar. São sábios, persistentes, criativos. Precisam ser assim. O mar exige e ensina. Vivem dois mundos diferentes, o do mar e o da terra. Esses artistas do mar de Icapuí, vivem momento de tensão. Seu trabalho e sustento ameaçado pelos pescadores predadores. Acabou o período de defeso da lagosta. Iniciou em Icapuí uma guerra no mar e na terra. Pescadores tristes, apreensivos lutando pela sobrevivência. Uma realidade que precisa de apoio da sociedade e dos governos municipal e estadual. O pescador artesanal só não quer se transformar num "pescador de ilusão".


Realidade:

"A guerra é real e recomeçou nos mar cearense, que pouco está para pescador. Um dia de trabalho, saindo pela madrugada e voltando ao entardecer, não oferece muita coisa a mais que o próprio custo de uma viagem para pescar. Pagando-se as iscas e as bolachas para enganar o estômago que ronca enquanto todo o corpo balança em cima do mar profundo, o que seu Eduardo Batista de Sousa conseguiu de pesca da lagosta, no último sábado em Icapuí, só deu para comprar o almoço do domingo. Sete horas no mar e só dois quilos de lagostas presas no manzuá de pescadores artesanais que sofrem com a escassez da lagosta e o aumento da pesca predatória, ilegal e insustentável. Além do horizonte, ´pais-de-família´ fazem das camisas capuz e, com armas de fogo, tentam coibir os grupos de pescadores predadores, que mergulham utilizando equipamentos proibidos e, num só dia, capturam as lagostas que seu Batista só conseguiria em um mês.Icapuí. Perseguições, choques entre barcos, troca de insultos e de tiros e as "cabeças a prêmio" sendo rebocadas em direção a uma praia que, sedenta de "justiça", é capaz "de tudo, até matar". Na "revanche", 14 embarcações em posição de ataque ameaçando pisar em terra para recuperar o ouro perdido.Voltar do mar com dois quilos de lagosta penduradas no manzuá, uma espécie de gaiola usada pelos pescadores artesanais, não é lá muito animador para quem mantém a família somente com o que o mar oferece. Custa pouco mais de R$ 20,00 uma ida para o mar. Pelo menos R$ 20,00 para comprar de isca e R$ 8,00 "da cabaça", uma sacola de bolacha, rapadura, farinha e água para se alimentar os dois ou três pescadores da embarcação. Isso sem contar os custos anuais de pintura e manutenção dos equipamentos da embarcação. No tempo das "vacas gordas", os manzuás vinham com lagostas que, em cifras, superavam os R$ 400,00. Dois quilos de lagosta valem somente R$ 28,00. No fim de um dia "magro", o lucro que há é a esperança de que os dias melhores comecem logo amanhã, "como sem falta".Encerrado o período do defeso da lagosta, semana passada, milhares de pescadores dos litorais cearenses ganharam o mar. Com a antecipação, em 15 dias, da liberação para pesca, nem todos estavam preparados. Foi uma correria para organizar os barcos, garantir os equipamentos. Na Praia de Redonda, em Icapuí, os pescadores artesanais sabem que no mar podem encontrar lagosta e, também, os pescadores predadores, que utilizam marabaias, mangotes e compressores de ar para a pesca mergulhada, todos métodos proibidos por lei. Nos primeiros dias pós-defeso, a notícia em terra havia sido a captura de um barco que fazia a pesca com compressor. Na tentativa de virar o menor, um barco chocou-se ao outro. Armas em punho, tiros disparados e pescadores rendidos." Diário do Nordeste

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