segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Projeto LINDO e arrojado vai incrementar Salvador

Foto: Thiago Teixeira Ag. A TARDE
"Nossa entrevistada chega pontualmente ao encontro na Casa Amarela, no Santo Antônio Além do Carmo, onde já adquiriu 35 casarões, acompanhada da amiga Narcisa Tamborindeguy. Uma das quatro herdeiras de Newton Rique, fundador do Iguatemi, comanda a holding LGR, que tem negócios na Bahia e em diversos outros Estados nas áreas de shopping e hotéis. Formada em economia pela Universidade de Nova York, a carioca pretende comprar 15 outros imóveis no bairro, que deve transformar num boulevard, com lojas modernas, restaurantes, bares, teatro, cinemas e galerias de arte. Apaixonada pela Bahia, esta geminiana de 31 anos diz que gosta de pensar a longo prazo e planeja para o final do próximo ano a abertura das primeiras lojas. Antes, porém, pretende cuidar dos espaços públicos do bairro e incrementar alguns projetos sociais, a exemplo do que vem fazendo numa escola do Boqueirão. Solteira e dividindo-se entre várias cidades do mundo, diz que gosta de estar sempre rodeada de amigos. Com vocês, Luciana Rique.
Depois de restaurar esse casarão aqui do Carmo, o que vai acontecer com ele?
Ainda não sei. Eu estou com 35 imóveis aqui no Carmo. Meu projeto vai daqui, da Praça do Santo Antônio, até a Ladeira do Boqueirão. Quero fazer um mix de restaurantes, lojas bacanas, galerias de arte, espaços culturais, moradias (algumas de frente pra o mar), escritórios… Eu ainda não defini o que será no casarão, mas ele é a âncora do projeto.
Vai parar nos 35 imóveis?
Não, minha ideia é chegar a 50.
Esse projeto está previsto para começar a funcionar quando?
Em fevereiro, eu vou receber o masterplan e aí eu vou ter todas as casas no shell (reformadas, mas ocas), sabe? Como num shopping, onde você entrega o espaço vazio, para que seja decorado de acordo com o modelo do negócio. Aí vou fazer um grande evento, mas antes vou revitalizar a praça, ajeitar a igreja, fazer algumas coisas preparatórias. Tem uma escola no Boqueirão onde já coloquei o meu instituto, o Iris (antigo Instituto Newton Rique), quero fazer os projetos sociais primeiro para, depois, partir para a execução do negócio. Estou fazendo uma biblioteca lá. No caso deste casarão, eu tive de restaurar logo porque estava em ruínas, as paredes estavam caindo, mas foi demorado. Só o Iphan levou um ano para aprovar. As outras, a gente vai esperar acabar as aquisições para começar as obras.
Esse projeto tem um nome?
Ainda não, para mim, por enquanto, é Santo Antônio Além do Carmo.
Que lojas pensa em trazer para cá?
Lojas diferenciadas, que ainda não tenha em Salvador. Lojas mais artísticas, de design mesmo. Uma coisa que não vai muito para shopping. Tipo, tenho vários amigos estilistas que têm marcas bacanas, como Raia de Goeye, Isabela Capeto, que poderiam vir para cá. E tem marcas diferenciadas que estão nos shoppings também, como a Osklen. Será um lugar onde as pessoas possam passear. Quero trazer também um cinema de arte e um teatro.
E onde seria o teatro?
Não sei ainda. Eu tenho várias casas grudadas umas nas outras, mas isso vai depender de quem vai operar para saber o espaço que precisa.
Qual o custo desse projeto? Por enquanto, já foram R$ 40 milhões, mas o investimento total só saberemos mais adiante.
Seria um shopping a céu aberto?
Não. Não chamaria de shopping. Mas seria administrado pela sua empresa, tipo nos shoppings que já possui. Sim, eu vou alugar os espaços e administrar, assim como já fazemos nos nossos shoppings, mas não será um shopping a céu aberto.
Por que o Santo Antônio?
Eu sempre vim muito para Salvador, desde pequena. Aí, comecei a me apaixonar por essa região. Eu quis fazer um projeto de rua para Salvador porque acho que aqui não existe um lugar de rua onde você pode sair pra passear com a família, com os amigos, ir num cinema, num restaurante, num bar. Isso não existe, pelo menos eu não conheço, só dentro de shopping mesmo. Estava buscando um lugar para fazer isso quando me deparei com essa praça, com essa vista da Baía de Todos-os-Santos, que é o lugar que mais gosto de Salvador. Aí falei, é aqui, pronto. Aqui é o lugar mais lindo do mundo, aqui me sinto em casa, aqui sou feliz. Pensei: quero fazer aqui neste bairro maravilhoso, quero trazer as pessoas, o povo baiano para cá.
E como está a sua negociação com o poder público com relação ao projeto? Ainda não fiz nenhum contato porque o projeto ainda não está pronto. Eu acho que só deverei fazer isso quando estiver prontinho. Só aí vou me apresentar e pedir apoio para fazer coisas do tipo enterrar a fiação, etc. Temos uma associação dos amigos do Santo Antônio Além do Carmo. Todo mundo que tem negócio aqui aderiu, tá sendo bem bacana. A gente quer dar o máximo de força possível a essa associação para a gente, através dela, chegar até o poder público. Porque não sou a única pessoa que tem interesse na revitalização do Santo Antônio. Tem muita gente que está interessada em beneficiar o bairro.
E essa restauração da praça, o que pretende fazer com ela?
Não é preciso propor ao poder municipal? Sim, claro. Eu sei que já tem um projeto do poder público, então quero ver, conversar com eles, debater. É como se fosse uma adoção da praça para deixá-la bem natural.
Tem alguma área de investimento cultural dentro desse projeto? Sim, temos o teatro, um centro cultural, para a realização de exposições, manifestações artísticas em geral. Mas ainda não sei como será isso, mas, com certeza, quero ter um centro cultural aqui.
Por que o Iguatemi, ao contrário de outros shoppings do País, não tem uma casa de espetáculos? Não temos nenhum projeto nesta área para lá.
Mas você continua sócia do Iguatemi? Sim, mas não existe mais a empresa com esta marca. Cada um dos quatro irmãos (herdeiros de Newton Rique) tem a sua empresa e somos sócios nos shoppings. A minha holding é a LGR.
Seu projeto deve atrair novos investidores para a área?
Acho que, assim que as coisas estiverem prontas, vai haver, sim, uma atração de novos empresários. Muita gente vai querer morar aqui, ter negócio aqui, e acho até que quem tem uma lojinha aqui, automaticamente, vai querer torná-la mais bonita, mas charmosa, porque estará todo mundo voltado para cá.
Qual a previsão de começarem a funcionar os primeiros negócios?
No final do ano que vem, eu já estarei alugando as casas, que estarão revitalizadas, mas no osso. A abertura dos primeiros negócios vai depender de cada empresário que alugar nossos espaços.
Essa ideia de mesclar moradias com comércio é para não cair no erro que foi o projeto do Pelourinho? Exatamente. Veja em Londres, por exemplo, todos os lugares bacanas tem gente morando, tem lojas bacanas. Acho que é isso que dá vida a um lugar. Não quero que seja como no Pelourinho, onde quem chega acaba tudo e pronto. Todos os investimentos vão embora.
E como tem sido a receptividade da comunidade do Santo Antônio?
A maioria está muito contente. Até porque a gente faz parte da associação e debatemos; as pessoas falam o que querem para o lugar, enfim, eles têm sido muito receptivos.
Sua ideia é morar na Bahia? Eu moro no Rio, mas moro em muitos outros lugares, não tenho uma morada fixa. Estou sempre aqui, no Rio, em Londres, onde vive o arquiteto dos meus projetos. Mas quero estar cada vez mais na Bahia.
E esse projeto do Acre, que já lhe deu até o apelido de imperatriz do Acre?
Eu não sei de onde surgiu isso, mas o projeto lá é muito grande. Éramos muitos investidores, mas eu comprei a participação de todos e assumi, com um sócio, o empreendimento. A proposta é buscar cidades onde não haja shoppings. Em Rio Branco, não tem, então resolvemos fazer lá. Eu acredito muito no desenvolvimento daquela cidade, há muito investimentos imobiliários lá. Eu gosto de pensar a longo prazo, assim como meu pai, que construiu o Iguatemi de Salvador há 35 anos. Imagina, aquilo não era nada, hoje é o coração da cidade. A gente sempre busca ver o vetor de crescimento da cidade para investir lá.
Vem de seu pai a sua inspiração para os negócios?
Sim, é, é (se emociona). Newton Rique sempre quis construir um espaço cultural no shopping. Sim, e pretendemos fazer. Temos um espaço de mais de mil metros quadrados que será para este fim. Vamos fazer um centro cultural lá no Iguatemi. Estamos buscando quem vai tocar esse projeto. Depende só disso.
E o que seria esse centro cultural?
Um lugar para exposições, eventos… Um dia eu tive a ideia de fazer nesse casarão um centro cultural e falei com o Fernando Coelho (artista plástico). Ele lembrou que esse era um sonho do meu pai. O Fernando tem o projeto, mas eu não vi ainda. Claro que deve estar desatualizado, mas é para o coração, a memória, sabe… Meu pai era apaixonado por arte, tanto que ele foi o produtor de Dona Flor e seus dois maridos. Cada praça no shopping é uma homenagem a um artista. Tem Dorival Caymmi, Gal Costa, Jorge Amado… Aí o Carlinhos Brown fez tantos elogios a essa homenagem do meu pai que decidimos que, quando tiver a próxima expansão do Iguatemi, vamos fazer a Praça Carlinhos Brown. Eu herdei isso do meu pai.
Então, também aprecia arte? Sim, eu sou uma colecionadora.
Que artistas estão na sua coleção?
Arte contemporânea. Nelson Lerner, Daniel Senise, Tunga, Bel Borba, Tati Moreno, Mário Cravo Neto, Fernando Coelho e outros muitos prediletos que ainda não tenho.
O que acha que falta na Bahia?
Acho que um desenvolvimento maior. São Paulo já se desenvolveu muito, o Rio está começando agora. Se você pegar numa escala mundial, isso aqui ainda é um interior. Acho que falta investimento privado, consciência do governo para fazer as coisas, criar estrutura para atrair investimentos, porque todo mundo já ama a Bahia. Meus amigos de Londres, de vários lugares, são loucos para vir para cá. E eu sei que, quando chegar esse desenvolvimento, eles virão investir aqui também."

Fonte: Entrevista publicada na Muito#81 - 18/10/2009
Nossa Opinião: UM EXEMLO!

3 comentários:

Lucia/Canoa Quebrada disse...

oi tia boa tarde
realmente admiravel,adorei a historia dela...
seria bom que outras pessoas pudessem fazer o mesmo.
um abraço
lucia

Silva disse...

Acho um boa iniciativa, mas como tenho lido na internet, já começa a ter os seus opositores.
Acho que agora que a jovem empresária colocou suas intenções na mesa (jornal), vai ter que agir rápido. O bairro já vem sido influenciado por rumores do projeto faz um tempo (especulação imobiliária e "intelectual"). Quanto mais adiar as reformas mais espaço para críticas e burocracia das autoridades existirá.
No mais, parabéns pela idéia inovadora.

Ariadne disse...

E aí, alguém sabe o que aconteceu com essa "linda proposta".
Estive no Santo Antonio após o São João (jun/2010) e os moradores me disseram que as tais casas compradas estão até sendo revendidas. Não passou de fogo de palha.