quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Toda a vida "ocidental" de Dubai só acontece entre as paredes dos hotéis

Muita gente me pergunta se vale a pena ir para Dubai. Estive lá uma vez e afirmo: depende do hotel em que se vai ficar. Tudo em Dubai é exagerado. Lá fica, por exemplo, o maior edifício do mundo, o Burj Khalifa Tower, com estonteantes 828 metros de altura, e o Burj Al Arab, talvez o hotel mais luxoso do mundo, em Jumeirah Beach. Dubai é um dos sete Emirados Árabes Unidos.

Madinat Jumeirah reproduz os contornos de uma vila árabe ligada por canais. Daí se vê a imponência do Burj Al Arab, que parece uma vela gigante entregue ao céu sempre límpido. Em Dubai você pode se dar muito bem, ou muito mal, dependendo do grau de informação que leva consigo.

Quando fui a Dubai, não tinha dinheiro para ficar hospedado no Burj Al Arab, onde ocorreu uma convenção internacional de revistas do mundo inteiro, em Jumeirah Beach. Decidi então ficar no centro da cidade, no Holiday Inn, um hotel que costuma ser bom em qualquer lugar do mundo. Mas como eu era ignorante sobre Dubai! Nada, absolutamente nada que eu imaginava sobre a cidade se confirmou.

Na minha primeira manhã, decidi dar um pequeno passeio às margens do canal que ficava no centro, na esperança de ver aquela vila árabe que aparece nas fotos. Peguei um táxi e, quando achei que estava próximo do lugar, pedi para descer. Meus amigos, eu estava literalmente nonada! Andei quilômetros e não vi algo que sequer lembrasse a tal vila árabe. No entanto, o rio estava lá, enorme, e havia muitos prédios do outro lado da margem. Um sol de três desertos queimava implacavelmente e aquela "rua" em que eu decidi pular do táxi era na verdade quase uma rodovia. E não havia táxi vazio. Depois de umas duas horas vagando na área central de Dubai, sem chegar a lugar nenhum, consegui um táxi e voltei para o hotel.

Como já era umas duas da tarde, resolvi almoçar num dos muitos restaurantes que ficavam perto do hotel. Entrei no primeiro e pedi uma cerveja. Não vendiam. Troquei de restaurante. Entrei em mais dois e também não vendiam. Aí fui me informar, pois na noite anterior eu havia bebido cerveja no hotel, portanto a bebida não era proibida. Não era? Era sim. Só se bebe dentro dos hotéis!

Foi aí que eu descobri que toda a vida "ocidental" de Dubai só acontece entre as paredes dos hotéis. Altas festas, bebidas, mulheres bonitas, narguile e outros prazeres são totalmente liberados em Dubai... dentro dos hotéis! Tanto melhor sua estada na cidade quanto melhor for o seu hotel.

Fora dos hotéis, a vida leva o padrão árabe. O mais legal que se pode fazer são compras, mas em Dubai não existem coisas muito baratas para comprar. Quando decidi fazer um city tour com a agência de turismo de meu hotel, finalmente entendi Dubai.

Primeiro: a tal vila árabe cercada por canais é somente uma fantasia a mais da cidade, e fica em Jumeirah Beach, inacessível para quem não está hospedado lá. O rio que vi no meu primeiro dia não tinha nada de turístico e ligava duas partes da cidade. A cidade não é bem uma cidade, é um país. As distâncias são absurdas. Às vezes você viajava 30 ou 40 km para ir de um ponto a outro sem nada importante no meio. Os prédios são tantos e tão altos que não dá para acreditar o que toda aquela gente e aquelas empresas foram fazer em Dubai.

Há 20 anos não havia nada disso. Só deserto. As calçadas, todas têm sistema artificial de irrigação para manter a grama verdinha. São centenas, provavelmente milhares de quilômetros de irrigação. A Sheik Zayed Road, maior avenida de Dubai, tem nada menos de oito pistas bem largas.

Agora, imagina como era a vida no meu hotelzinho três estrelas se o Burj Al Arab, por exemplo, tem sete estrelas...

Mas nem foi isso o que mais me chamou a atenção em Dubai. O que realmente me deixou em dúvida sobre gostar ou não da cidade foi o fato de que não existe uma civilização, não tem uma história que foi construída aos poucos, ao longo dos anos. Dubai é o retrato acabado do mundo capitalista. Tudo que lá existe foi criado pelo dinheiro e para o dinheiro. A cidade se transformou num ponto turístico e de negócios não porque tivesse algo que atraísse para lá, mas sim porque o dinheiro levou para lá.

Quer ir para Dubai? Vá, é curioso conhecer. Mas não esqueça que sua vida terá a liberdade que o seu hotel permitir.

Por: Sergio Quintanilha às 13h50 Fonte: http://revistaminhaviagem.blog.uol.com.br/

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