sábado, 14 de fevereiro de 2009

Coisas da Bahia


Foto: Marina Silva
"Alheios às consequências que o projeto orla pode trazer no futuro, poucas dezenas de barraqueiros transformam trechos das praias da capital baiana num mar de regalias, onde o que vale é conquistar banhistas e fazer dinheiro.
Barraca do Lôro, Praia do Flamengo, meio da tarde. Olhe ao redor e sinta, entre o aroma de um polvo na chapa e um salmão ao molho de alcaparras, um certo ar de escritório, ou até de lan house. A única barraca da orla soteropolitana com sistema de internet wi-fi (sem fio) copiou Copacabana para inovar por aqui.

Basta abrir o seu bloco de notas eletrônico e acessar e-mails, sites de pesquisa ou simplesmente bater papo com um amigo da Tailândia. Mesmo de férias, a psicóloga paulista Carina Dietrich não pode ficar off- line um dia sequer. “Preciso responder solicitações de pacientes”, explica.
Trocou o consultório pela praia. Entre um download e outro, um mergulho.O mais importante: o serviço é cortesia da casa, totalmente gratuito. “0800 Lôro”, brinca o gerente do estabelecimento, o argentino Diego Montoto.

Massoterapia, escola de kite surfe, apresentações artísticas, DJs e gastronomia sofisticada. Um desses “castelos da mordomia” à beira-mar tem nome de coquetel mexicano, mas seu diferencial é originário da terra do sol nascente.
O baiano, acostumado a beliscar pititingas e acarajés transbordado de vatapá, jamais imaginou um dia degustar , em plena praia, bolinhos de arroz cobertos de peixe cru.
Na barraca Marguerita, também em Praia do Flamengo, isso é possível. Num domingo de Verão, o sushiman Plínio Santos chega a fazer 400 temakis, os cones de algas que ameaçam a hegemonia dos tabuleiros. “Sucesso absoluto”, atesta o sempre simpático gerente, Gilson Melo.
Há os que dizem que o tipo de comida não combina com o sol ardente e a areia. Na dúvida, a cearense Mara Piscuoglio aprova: “O bom das barracas da Bahia é que cada uma faz do seu jeito. Se padronizar perde a graça”.
TEMPO REAL A alguns quilômetros dali, em Vilas do Atlântico, uma barraca de praia usa a tecnologia para revolucionar o jeito de tratar a clientela. Em parceria com a operadora de celular Vivo, a Odoyá coloca na internet imagens do ambiente confortável e estruturado.
Em tempo real, pelo telefone, o cliente sabe se o estabelecimento está bem frequentado. A mesma Odoyá é conhecida pelo atendimento rápido. Isso porque, através de walkie- talkies, os garçons podem se comunicar com o gerente e com a equipe da cozinha.
‘Points’ apostam na noite A iniciativa é praticamente única entre as mais de quatro centenas de barracas de praia de Salvador. Além de massoterapia e apresentação de DJs profissionais durante o dia, a Cancun Beach, em Praia do Flamengo, tenta criar uma cultura que nunca existiu na capital baiana: a de frequentar as praias à noite.
Das 17h à meia-noite, as portas ficam abertas para os clientes desfrutarem dos serviços e de uma comida variada, especialmente baseada na culinária mexicana.
O serviço noturno teria sido uma solicitação dos próprios moradores. “O pessoal daqui do Flamengo reclama da falta de restaurantes e bares interessantes. Aí resolvemos investir”, diz um dos sócios do estabelecimento, Silvio Ferreira.
Há outras iniciativas de invadir o turno da noite. Com a já tradicional música ao vivo, a Barraca Juvená, em Itapuã, permite que seus clientes desfrutem de um pôr- do-sol ao som de covers de Chico Buarque, Djavan e Vinícius de Moraes. Até as 20h, ainda há banhistas no local. “Proporcionamos um verdadeiro orgasmo astral”, diz o místico Juvená, com a barba volumosa e ar profético.
Conforto na alma da Barra À frente está o mar da Baía de Todos os Santos. Ao redor, vendedores dispostos a fazer com que você não precise sequer se mexer para desfrutar o ambiente. Não há barracas, mas há boa vontade.
A necessidade de os ambulantes ganharem um trocado faz Porto da Barra uma das melhores do mundo no quesito serviços. Os que frequentam o lugar não trocam o Porto por nenhuma regalia das megaestruturas.
Para tomar um banho de água salgada não é preciso sequer entrar no mar. Os famosos regadores do Porto dão a ilusão de que se está no paraíso. “Isso aqui é um sonho. Se o céu é assim, para mim está bom”, diz o advogado gaúcho Bruno Cerqueira, 33.
Desfruta de uma cadeira e de um sombreiro disponibilizados pelos vendedores. “Aqui, antes do cliente pedir, a gente já está oferecendo. Serviço bom tem que ser assim”, diz o vendedor Evandro Santos Gonçalves, o “Boneco”, dez dos seus 40 anos vividos no Porto, onde oferece aos clientes um cardápio etílico composto por cerveja gelada, caipirinha e roskas de vários sabores."
(Notícia publicada na edição de 14/02/2009 do CORREIO)

Um comentário:

Anônimo disse...

O famoso gelou bebeu, no porto da barra, só na Bahia.
Carvalho