quarta-feira, 8 de abril de 2009

Entrevista do Secretario de Comunicação da Prefeitura de Salvador - André Curvello
















Fonte: http://www.bahianoticias.com.br/noticias/entrevistas/2009/04/06/86,andre-curvello.html

"Estamos aparecendo pouquíssimo porque a gente não tem dinheiro. A realidade financeira da prefeitura é diferente, é outra"
Por Alexandre Costa
Bahia Notícias – Como você foi parar na prefeitura André?André Curvello – Bom, eu sou jornalista, formado pela Ufba e com passagem por todos os veículos de comunicação em Salvador, seja jornal, rádio ou televisão, além de agência de publicidade. Fiquei um bom tempo como chefe da sucursal do jornal A Tarde em Feira de Santana, onde depois fui secretário de Comunicação na gestão de João Durval. Também participei de várias campanhas políticas. O prefeito me convidou ano passado e eu aceitei.
BN – E qual foi o principal obstáculo que encontrou ao assumir a Secom?AC – O principal obstáculo era o fato da Secretaria de Comunicação estar muito na mídia de forma negativa.
BN – A Secom era notícia, com a entrada e saída de secretários...AC – Sou o quinto secretário. Então a filosofia que deve prevalecer é que assessor de imprensa não deve ser notícia, e muito menos secretário de Comunicação.
BN – A primeira-dama de Salvador e deputada estadual Maria Luiza Carneiro (PMDB) foi apontada como pivô da saída de pelo menos alguns de seus antecessores, o que colocou a Secom na mídia de forma negativa, como você disse. Ela ainda interfere na sua área?AC – Acho que não é por aí. Eu tenho um relacionamento extremamente respeitoso com a primeira-dama, tenho admiração pelo trabalho que ela realiza como deputada e também na área social, onde ela conseguiu dinamizar a estrutura no Mais Social.
BN – Então ela não se envolve mais com a comunicação?AC – Não, ela não se envolve. Sigo a orientação do prefeito João Henrique Carneiro.
BN – Que mudanças você promoveu de imediato na Secom?AC – Assumi num ano eleitoral. Tinha um prefeito que era candidato à reeleição, então foi um ano atípico. Não diria que a secretária já esta com minha cara, pois esse é um processo lento que foi dificultado até pelo tumulto administrativo do período eleitoral. Agora, eu acho que a gente está tentando melhorar o relacionamento da prefeitura com a mídia. É uma tentativa diária, buscando gerar informação. O relacionamento ainda não é o ideal, pode melhorar, mas já melhoramos muito para o que era.
BN – Apesar de todos os esforços na comunicação, o Datafolha continua a colocar João Henrique como o pior prefeito do Brasil. O que está dando errado?AC - Essa pesquisa, na minha opinião, não tem valor, com todo respeito ao instituto. Primeiro você não pode afirmar que João Henrique é o pior do país, afinal só oito prefeitos foram avaliados. Você observa que o segundo lugar tem seis pontos, e João Henrique tem 5.1, que é a mesma avaliação de quando ele foi reeleito, quando tava com 5.2. Então, nós vamos realizar pesquisas de avaliação que vão acontecer de forma mais sistemática para observamos como anda de fato a aceitação do prefeito. Claro que sabemos que essa aceitação não é ainda a ideal, mas ela é muito boa.
BN – Quando você chegou a prefeitura, o cenário para João Henrique era nebuloso. Todas as pesquisas o colocavam sem chances de ser reeleito. Você acreditava nessas pesquisas?AC – Era verdade. A rejeição do prefeito era muito alta. Todas as pesquisas internas e de outros institutos mostravam isso. Mas eu acho que a comunicação foi se ajustando e, com a campanha eleitoral, o prefeito teve condições de mostrar muita coisa, de modo que essa rejeição despencou. Mas eu acreditava na reeleição. Em alguns momentos era engraçado, pois havia um desânimo geral, pois estávamos em quarto e diante de tantos competidores fortíssimos e a gente com muitas dificuldades administrativas. Mas eu sempre dizia que estávamos no jogo. Um instituto chegou a me dizer em maio que João Henrique estava fora, e eu dizia que estava dentro. Eu via as obras, a cidade se desenvolvendo. E via também o apoio do ministro Geddel Vieira Lima (Integração Nacional), que foi fundamental, e a própria mudança do prefeito, que saiu do gabinete e foi para a rua, onde ele deve estar sempre. E o povo gosta dele.
BN – A Secom está preocupada em aprimorar a imagem do prefeito?AC – Não. A Secom é uma prestadora de serviço. Nós passamos informação. Se ser a ponte entre a prefeitura e a mídia ajuda a melhorar a imagem do prefeito, então ótimo. Mas não temos papel político. Temos é de comunicar bem.
BN – Com que freqüência você despacha com o prefeito?AC – Todos os dias, várias vezes no dia, pessoalmente e por telefone. João Henrique é um obstinado por trabalho. De modo que ele não tem dia nem hora para lhe acionar.
BN – Por que o governador Jaques Wagner (PT) aparece mais na mídia do que o prefeito?AC – Estamos aparecendo pouquíssimo porque a gente não tem dinheiro. A realidade financeira da prefeitura é diferente, é outra. Então, isso até reflete na imagem do governador. Propaganda bem feita gera bons resultados. A gente aparece quando dá, em campanhas esporádicas, como esta do aniversário de Salvador. Muita coisa do que fazemos não podemos mostrar por falta de dinheiro. Nosso orçamento é pequeno. Aliás, essa coisa de orçamento na comunicação sempre é polêmica. Sempre defendo que esse assunto deve ser tratado com mais pragmatismo, com menos olhar político. A comunicação é saudável para o poder público, para o mercado, para a imprensa, para todo mundo, pois é prestação de contas. Governos que investem em comunicação estão investindo em transparência, até porque esses investimentos são auditados pelos tribunais de contas.
BN - Qual o orçamento da comunicação da prefeitura de Salvador?AC – Chega a ser engraçado, mas está em torno de R$5 milhões, incluindo publicidade.
BN – A publicidade caminha junto com o jornalismo?AC - A reforma administrativa tirou a coordenação de propaganda da Secom. Então, essa coordenação foi para o gabinete do perfeito. Hoje a função da Secom é estritamente a de se relacionar com a imprensa, de informar.
BN – O ministro Geddel dá muito palpite na sua área?AC – O ministro é um colaborador fantástico e eu fico muito feliz com as colaborações que ele dá. É um homem público experiente e muito inteligente. Então, é sempre oportuno, é sempre interessante estar conversando com ministro e ouvindo suas orientações.
"Alguns até cogitaram, no processo de elaboração da reforma, extinguir a Secom, idéia que o prefeito rechaçou veementemente"
BN – O que mudou em termos de estratégia na comunicação do primeiro para o segundo mandato do prefeito?AC – Fizemos mudanças. Já criamos um site específico da Secom. Precisamos estar atentos à internet. Acho que ela vai crescer mais, não vai parar. É uma forma de comunicação direta. A gente tem muitas dificuldades com um orçamento pequeno, mas a gente quer dinamizada a comunicação interna e, para isso, também temos de estar atentos às novas tecnologias. Também lançamos o jornal Novo Tempo, que era o Tá Acontecendo, compatível com a nossa nova marca. E estamos querendo lançar um jornal voltado para os servidores públicos municipais.
BN – Porque a mudança de marca?AC – É normal, afinal mudou a administração.
BN – Mas a administração é a mesma, afinal o prefeito é o mesmo...AC – É um novo governo, hoje menor, mais coeso, mais homogêneo. É um novo mandato, e nós entendemos que a gente precisava, mesmo com um primeiro mandato aprovado, já que João Henrique foi reeleito, dar uma cara nova, mudar até mesmo para estar de acordo com os novos objetivos do prefeito, que fará projetos estruturantes para a cidade, de longo prazo, planejando Salvador para o futuro.
BN – Muita gente criticou a marca. Como você viu essas críticas?AC – Discordo que muita gente tenha criticado. Eu respeito a opinião dos outros e ponto final. Agora não precisamos criar polêmica sobre um assunto desnecessário. A marca é fruto de um processo criativo. Pode-se gostar ou não. Acho a marca extremamente coerente, tanto que aprovei a marca e acho que ela vai fazer história.
BN – Então não é um custo desnecessário para uma secretaria que tem pouco orçamento, como você diz?AC – Não. A comunicação tem um custo como qualquer outra atividade. Investir em propaganda não é gasto, é prestação de contas. Os veículos criticam isso, mas a propaganda movimenta o poder público e é um vetor de crescimento que movimenta a economia, inclusive nos próprios veículos.
BN – A área da comunicação foi atingida com o enxugamento da máquina provocada pela reforma administrativa do prefeito?AC – Não. Alguns até cogitaram, no processo de elaboração da reforma, extinguir a Secom, idéia que o prefeito rechaçou veementemente. O prefeito compreende a importância de uma prefeitura como a de Salvador ter uma Secretaria de Comunicação. E ainda não temos a estrutura considerada ideal, ainda pecamos muito em tecnologia, mas, diante da nossa realidade orçamentária, fazemos trabalho adequado. Para você ter uma idéia, há secretarias onde não tem nem a figura do assessor de imprensa ou coordenador de comunicação. Quando se fala em colocar isso, dizem que é um absurdo, que é gasto desnecessário, mas esses organismos precisam sim de uma estrutura mínima de comunicação. Com a reforma administrativa, conseguimos criar alguns cargos de assessor de comunicação que deslocamos para algumas secretarias. Precisamos tratar a comunicação como uma ciência matemática e não com Hipocrisia. Acho, inclusive, que falta união da nossa classe para que isso aconteça.
BN – As relações entre o prefeito e o governador Wagner ficaram estremecidas após as eleições do ano passado. Isso de alguma forma influencia de forma negativa naa relação entre a comunicação da prefeitura e do governo do estado?AC – Tenho um relacionamento bom com o secretário de Comunicação do governo, Robinson Almeida. É um parceiro. A relação é responsável e profissional. Eu sou um técnico cumprindo a minha missão.
BN – Como técnico você algumas vez já repreendeu o prefeito?AC – Sigo a orientação do prefeito, sou um liderado do prefeito, um comandado. Em algumas oportunidades, como ele é extremamente democrático e gosta de ouvir opiniões, eu humildemente dou minhas opiniões. Trabalhar com João Henrique é muito bom porque ele dá liberdade para a gente opinar, para a gente agir, e isso é muito gratificante.
BN – Durante a campanha eleitoral do ano passado, o prefeito assumiu uma postura mais agressiva, que o ajudou muito no processo. E ele tem mantido essa postura agora no segundo mandato. Foi uma estratégia de comunicação?AC - Eu acho que o melhor assessor de comunicação do prefeito é o próprio prefeito. Ele achou por bem adotar uma nova postura, sem perder a ternura, sem se afastar de seus ideais, sem deixar de lado a sua educação. Ele apenas resolveu adotar uma postura diferente. Acho que deu certo não é?
BN – Qual você acha que será o futuro político do prefeito? Concorrer ao governo em 2010? Do ponto de vista da comunicação, você acha que é uma empreitada eleitoralmente viável?AC – O prefeito diz que o destino deles está nas mãos de Deus. Acho que o prefeito está na fila, como ele mesmo diz. Mas o partido, o PMDB, tem o ministro Geddel como primeiro da fila. Do ponto de vista da comunicação, acho que é uma empreitada viável sim.
BN – Qual foi a maior crise que você enfrentou no governo JH?AC - Bom, todo dia tem crise. Eu acho que a questão da demolição do terreiro (Oyá Unipó Neto) foi a maior crise, pois eu tinha acabado de chegar na prefeitura e aquilo me pegou desprevenido. A gente ainda trata a comunicação de forma muito amadora. Comunicação é planejamento. Tem de estar interligada com todas as áreas. Às vezes, a gente é surpreendido. Eu não sabia daquilo com antecedência. Todo dia temos de estar com esse ou aquele secretário ou diretor de órgão porque eles não tem essa preocupação, não pensam no dia seguinte do ponto de vista da comunicação. Eu sempre digo, por exemplo, que o relacionamento com a imprensa tem de ser tratado como uma guerra. O jornalista vive de informação e não é seu amigo. Ele quer informação. Por isso, a imprensa deve ser tratada sempre de forma muito profissional e transparente.
BN – A imprensa tem lado?AC – Sim, os veículos o repórter também têm lado. Vejo assim: a prefeitura tem seus interesses, e a imprensa também. Mas o que norteia essa relação é o respeito. O que não pode é acontecer mentira.
BN – Você acha que a reeleição de João Henrique calou muito jornalista e veículos de comunicação?AC – (risos) Olha, João Henrique ressurgiu das cinzas. Muito jornalista o dava como morto. Acho que é algo que vale a pena refletir. Do ponto de vista da comunicação, não devemos nunca tratar a política como algo inflexível. Muitos apostaram que João Henrique não seria reeleito, o que é normal, afinal todo mundo tem lado, como eu disse antes.
BN – O prefeito alguma vez já pisou na bola na comunicação?AC – O prefeito não pisa na bola nunca (risos).

Nossa opinião: Equilíbrio e maturidade! Parabéns ao Prefeito por ter ao lado um jovem de garra e caráter.

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