O salão do Au Pied de Cochon: reservas são inevitáveis |
Foto: Divulgação e Mauro Marcelo Picard e seu pé de porco recheado com foie gras: objeto de desejo |
Um cozinheiro meio maluco, um bistrô barulhento, pratos imensamente calóricos e apresentados sem nenhuma firula, feios mesmo. No entanto, a busca por um lugar como esse pode justificar excessos na mesma medida, como pegar um avião em Nova York ou dirigir 600 km só para ir jantar no Au Pied de Cochon, em Montreal. A comida é absurdamente saborosa.
Quem diz que “não hesito em pegar um vôo de Nova York só para comer lá” é Anthony Bourdain, o chef celebridade da televisão. E quem dirigiu de Toronto a Montreal em um sábado, jantou e voltou no dia seguinte de manhã, fui eu. Não podia perder a oportunidade.
O chef biruta e criador do restaurante é Martin Picard, que transforma o porco, o pato e outros bichos em algo que, a princípio, não parece razoável. Ele mistura pé de porco com foie gras, sua outra paixão culinária, e também não hesita em colocar uma camada de queijo cheddar junto ao fígado da ave. Serve cabeça inteira de leitão, oferece língua de bisão, o boudin noir (chouriço) também com foie gras e tudo parece duvidoso e arriscado.
Mas... a primeira garfada provoca o encantamento. Clientes se olham surpresos, o sorriso exultante é inevitável e a mistura canadense de idiomas ecoa entre o Oh, my God e o Mon Dieu! É o sabor em seu estado mais direto e excitante, quase bruto, mas inexcedível.
São várias opções em que o cochon baila com o foie gras ou aparecem em exibição solo, mas o astro principal – e pelo qual viajei os 1.200 km de um dia para o outro – é o pé de porco recheado com o fígado da ave. Dê uma olhada na foto desse prato: nele não há qualquer preocupação dos cozinheiros, todos jovens com jeans, camiseta e bandana, em limpar os respingos nas laterais. Esqueça aquela simetria e virtuosismo na apresentação dos pratos nos restaurantes franceses finos. No Au Pied de Cochon de Martin Picard o que vale é a expressão corajosa do gosto.
Vale muito pegar um avião em Nova York, São Paulo ou onde for para ir lá. A reserva é praticamente obrigatória, só funciona no jantar de terça a sábado e vive cheio. Os preços dos pratos vão de 20 a 50 dólares canadenses, com cotação praticamente igual à moeda americana.
Mesmo se arrastando até o hotel depois do jantar, verá que, ao distinguir aqueles sabores verdadeiros, jamais se sentirá um glutão. E, sim, um afortunado apreciador do que é simplesmente bom.
Informações: IG - Mauro Marcelo para o IG
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