sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

O verdadeiro legado maia

A 78 quilômetros de Mérida, na Península de Yucatán, Uxmal exibe um dos exemplos mais extraordinários de arquitetura maia, conhecida como estilo Puuc. É Patrimônio Mundial pela Unesco desde 1996
 A Pirâmide de Kukulkán ou "El Castillo", nas ruínas maias de Chichén Itzá, projeta efeitos visuais de sombra e luz nos solstícios e equinócios. Ao entardecer, a imagem da "serpente emplumada" – deidade mesoamericana conhecida como quetzalcoátl ou kukulcán – desce pelos degraus da construção, em um espetáculo natural acompanhado de perto por centenas de turistas todos os anos. El Castillo guarda ainda outra curiosidade: cada uma de suas quatro faces tem 91 degraus, perfazendo um total de 364 – contanto com a base do topo, último degrau comum a todos os lados, chega-se ao número de dias do ano

Em 3 mil anos de história, a civilização maia acumulou sólidos conhecimentos em matemática, arquitetura e astronomia, além de ter elaborado um sistema de escrita absolutamente original. Obcecados pelo tempo, os maias desenvolveram meios de registrar sua passagem e de relacioná-la aos acontecimentos. Acreditavam em ciclos contínuos e intermináveis em que episódios marcantes na vida cotidiana voltariam a ocorrer de quando em quando.
Criaram dois calendários – ha'ab, de função astronômica, e tzolkin, de uso cotidiano – e transformaram a observação da passagem do tempo em ciência. "Esta concepção encontramos no calendário de conta longa e também em algumas de suas profecias, porque consideravam que acontecimentos passados voltariam a ocorrer. Para eles era muito importante prever que haveria bons períodos de chuva, que não haveria epidemias, e para isso usavam os calendários", disse o arqueólogo Alfredo Barrera Rubio durante o seminário "El Tiempo en el Pensamiento Maya" realizado no fim de setembro em Mérida, capital do Estado de Yucatán, no México.
A fama de serem um povo profético colou nos maias e espalhou-se pelo mundo. Uma brecha perfeita para o manancial de especulações que cercam o suposto fim de seu calendário. Para muita gente, indica o apocalipse. O fim do mundo. Mas não era exatamente nisso que os maias acreditavam. Para eles, a conclusão de uma Era induz o início de outra.
Historiadores, arqueólogos e estudiosos da escritura hieroglífica maia reconhecem que ainda estão longe de ter uma compreensão mais abrangente sobre os calendários desse povo. "Nos últimos anos, pesquisas deram muita ênfase ao conhecimento das genealogias dinásticas, de maneira que a abordagem política ganhou força em detrimento ao estudo da relação dos maias com o tempo", explica Barrera.
Contudo, os estudiosos sabem que as Eras maias se concluem a cada 5.125 anos e são compostas por 13 ciclos denominados "baktunes". Assim, cada baktun compreende aproximadamente 144.000 dias – há que se considerar a variação no número de dias nos anos bissextos.
Segundo a conta longa, a Era atual teve início no ano 3.118 a.C. e vai culminar em 21 de dezembro de 2012. É o fim do 13.º baktun. O desfecho de uma Era, o começo de outra. Concepção bastante diferente das teses apocalípticas que proclamam o fim do mundo.
O fato é que muitas lendas urbanas cercam os maias. Uma delas diz que não se tratava de um povo guerreiro. Por algum motivo convencionou-se dizer que "os astecas, sim, eram violentos, mas os maias eram pacíficos".
Tremenda bobagem. As cidades-Estado maias viviam em conflito permanente e o derramamento de sangue era constante entre urbes rivais. Tais eventos foram registrados pelos maias. Especialistas na história pré-colombiana trazem esta e outras verdades à tona.
Além disso, ao contrário do que muita gente pensa, os maias jamais foram extintos nem "desapareceram misteriosamente da face da Terra", como se costuma comentar. Ainda hoje seus descendentes, legítimos herdeiros de um povo sem igual no mundo, continuam a transmitir seus conhecimentos e seu entendimento sobre a vida geração após geração.
De certa forma, o turismo tem ajudado na difusão e na perpetuação dessa cultura fascinante. A gastronomia maia, por exemplo, pode ser apreciada atualmente em restaurantes e hotéis de primeira linha nos destinos da Riviera Maya.
Quem já foi a Cancún e a Playa del Carmen pode não ter se dado conta disso, até por causa da forte influência de fast-foods e genéricos. Mas quem já esteve em Tabasco, Chiapas ou Campeche – e mesmo em cidades mais autênticas de Yucatán e de Quintana Roo – sabe como é.
Além de tradições milenares, crenças, aromas e sabores, as magníficas cidades maias também resistem. Elas ocuparam territórios hoje pertencentes a México, Guatemala, Honduras, El Salvador e Belize.
Os centros maias mais importantes – convertidos em sítios arqueológicos – estão abertos ao turismo e anualmente recebem levas consideráveis de visitantes vindos de todas as partes do planeta.
Conheça a beleza eternizada de 10 das principais cidades maias do México: Bonampak, Calakmul, Chichén Itzá, Cobá, Comalcalco, Edzná, Palenque, Pomoná, Tulum e Uxmal. Informações: http://viajeaqui.abril.com.br/

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