A Pirâmide de Kukulkán ou "El Castillo", nas ruínas maias de Chichén
Itzá, projeta efeitos visuais de sombra e luz nos solstícios e
equinócios. Ao entardecer, a imagem da "serpente emplumada" – deidade
mesoamericana conhecida como quetzalcoátl ou kukulcán – desce pelos
degraus da construção, em um espetáculo natural acompanhado de perto por
centenas de turistas todos os anos. El Castillo guarda ainda outra
curiosidade: cada uma de suas quatro faces tem 91 degraus, perfazendo um
total de 364 – contanto com a base do topo, último degrau comum a todos
os lados, chega-se ao número de dias do ano
Em 3 mil anos de história, a civilização maia acumulou sólidos
conhecimentos em matemática, arquitetura e astronomia, além de ter
elaborado um sistema de escrita absolutamente original. Obcecados pelo
tempo, os maias desenvolveram meios de registrar sua passagem e de
relacioná-la aos acontecimentos. Acreditavam em ciclos contínuos e
intermináveis em que episódios marcantes na vida cotidiana voltariam a
ocorrer de quando em quando.
Criaram dois calendários – ha'ab, de função astronômica, e tzolkin, de
uso cotidiano – e transformaram a observação da passagem do tempo em
ciência. "Esta concepção encontramos no calendário de conta longa e
também em algumas de suas profecias, porque consideravam que
acontecimentos passados voltariam a ocorrer. Para eles era muito
importante prever que haveria bons períodos de chuva, que não haveria
epidemias, e para isso usavam os calendários", disse o arqueólogo
Alfredo Barrera Rubio durante o seminário "El Tiempo en el Pensamiento
Maya" realizado no fim de setembro em Mérida, capital do Estado de Yucatán, no México.
A fama de serem um povo profético colou nos maias e espalhou-se pelo
mundo. Uma brecha perfeita para o manancial de especulações que cercam o
suposto fim de seu calendário. Para muita gente, indica o apocalipse. O
fim do mundo. Mas não era exatamente nisso que os maias acreditavam.
Para eles, a conclusão de uma Era induz o início de outra.
Historiadores, arqueólogos e estudiosos da escritura hieroglífica maia
reconhecem que ainda estão longe de ter uma compreensão mais abrangente
sobre os calendários desse povo. "Nos últimos anos, pesquisas deram
muita ênfase ao conhecimento das genealogias dinásticas, de maneira que a
abordagem política ganhou força em detrimento ao estudo da relação dos
maias com o tempo", explica Barrera.
Contudo, os estudiosos sabem que as Eras maias se concluem a cada 5.125
anos e são compostas por 13 ciclos denominados "baktunes". Assim, cada
baktun compreende aproximadamente 144.000 dias – há que se considerar a
variação no número de dias nos anos bissextos.
Segundo a conta longa, a Era atual teve início no ano 3.118 a.C. e vai
culminar em 21 de dezembro de 2012. É o fim do 13.º baktun. O desfecho
de uma Era, o começo de outra. Concepção bastante diferente das teses
apocalípticas que proclamam o fim do mundo.
O fato é que muitas lendas urbanas cercam os maias. Uma delas diz que
não se tratava de um povo guerreiro. Por algum motivo convencionou-se
dizer que "os astecas, sim, eram violentos, mas os maias eram
pacíficos".
Tremenda bobagem. As cidades-Estado maias viviam em conflito permanente
e o derramamento de sangue era constante entre urbes rivais. Tais
eventos foram registrados pelos maias. Especialistas na história
pré-colombiana trazem esta e outras verdades à tona.
Além disso, ao contrário do que muita gente pensa, os maias jamais
foram extintos nem "desapareceram misteriosamente da face da Terra",
como se costuma comentar. Ainda hoje seus descendentes, legítimos
herdeiros de um povo sem igual no mundo, continuam a transmitir seus
conhecimentos e seu entendimento sobre a vida geração após geração.
De certa forma, o turismo tem ajudado na difusão e na perpetuação dessa
cultura fascinante. A gastronomia maia, por exemplo, pode ser apreciada
atualmente em restaurantes e hotéis de primeira linha nos destinos da
Riviera Maya.
Quem já foi a Cancún e a Playa del Carmen
pode não ter se dado conta disso, até por causa da forte influência de
fast-foods e genéricos. Mas quem já esteve em Tabasco, Chiapas ou
Campeche – e mesmo em cidades mais autênticas de Yucatán e de Quintana
Roo – sabe como é.
Além de tradições milenares, crenças, aromas e sabores, as magníficas
cidades maias também resistem. Elas ocuparam territórios hoje
pertencentes a México, Guatemala, Honduras, El Salvador e Belize.
Os centros maias mais importantes – convertidos em sítios arqueológicos
– estão abertos ao turismo e anualmente recebem levas consideráveis de
visitantes vindos de todas as partes do planeta.
Conheça a beleza eternizada de 10 das principais cidades maias do México: Bonampak, Calakmul, Chichén Itzá, Cobá, Comalcalco, Edzná, Palenque, Pomoná, Tulum e Uxmal. Informações: http://viajeaqui.abril.com.br/
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