Em Rioja, a Ysios tem arquitetura conceitual baseada em três elementos: madeira, vidro e alumínio |
Apreciar um bom vinho brindando o olhar não só com a paisagem das videiras, mas com a estrutura do próprio prédio da bodega é prazer extra, garantido por vinícolas que decidiram investir em grandes nomes da arquitetura mundial para levar o conceito da marca a suas estruturas. Muitas vezes recheadas de esculturas e obras de arte para complementar o clima vanguardista.
Tendência cada vez mais presente nas bodegas, o apelo à arte já é fato percebido, por exemplo, pela empresária Adriana Kroehne que conhece várias delas no Velho Mundo, inclusive as italianasIcario, em Montepulciano, e Antinori, ao norte da Toscana. Ambas estão associando os vinhos à arquitetura, música e arte para atrair o visitante, mas a produção da bebida permanece milenar. “As atrações artísticas e arquitetônicas acrescentam características inovadoras às adegas, mas a tendência é mais forte na América Latina, já que nas europeias muitas construções são seculares”, diz Adriana.
A espanhola Marqués de Riscal, uma das mais antigas na região de Rioja. Construída em 1858, ela segue a perspectiva histórica e rústica em sua La Catedral, como é chamada a cave no subsolo, com centenas de barris e garrafas envelhecidas. Mas numa proposta vanguardista, como queriam os herdeiros da bodega, em 2006 ela ganhou roupagem externa que se destaca em meio às casas em estilo colonial ao seu redor.
A Marqués de Riscal, na região de Rioja, tem cobertura de titânio com desenhos e silhuetas em ondas O arquiteto canadense Frank O. Gehry, autor entre outras obras do Museo Guggenheim de Bilbao, criou para a bodega o complexo Ciudade Del Vino com cobertura de titânio com desenhos e silhuetas em ondas. Também em Rioja, aos pés da Serra de Cantabria, a Ysios se auto-intitula bodega de autor, a começar por sua arquitetura totalmente conceitual baseada em três elementos: madeira, vidro e alumínio. Projetada por Santiago Calatrava, a cobertura é revestida de alumínio natural enquanto a fachada é coberta por folhas de cedro flexíveis, moldadas pelo arquiteto. Em frente à entrada principal, a lagoa é coberta com trencadis brancos, uma técnica de mosaico modernista especialmente usada por Gaudí. Releitura Na Darien, em Logroño, a força e tradição do vinho espanhol cederam espaço a uma visão futurística. Rodeada pelas vinhas Pradolagar, a adega reflete modernidade com projeto do arquiteto Jesús Marino Pascual. Inspirado na forma das rochas, encostas e margens íngremes próximas às vinhas, o edifício assemelha-se a um grupo de pedregulhos empilhados. Nesta atmosfera de arte coube também um museu dentro da adega, que detém uma das mais importantes coleções europeias de cerâmica, com as peças dos séculos 12 ao 20. Já em Portugal é a belíssima Quinta do Encontro do arquiteto Pedro Mateus, que chama a atenção como uma enorme barrica de carvalho em meio aos vinhedos da região da Bairrada, a 30 quilômetros de Coimbra. A adega-design foi inspirada nos objetos e formas ligados à produção e consumo do vinho. A entrada é feita de um pórtico que remetem às aduelas de madeira das barricas, com o visual de um andaime de construção. No interior, as rampas circulares fazem referência ao espiral do saca-rolha e as luzes se acendem de acordo com o ritmo dos passos do visitante que, ao chegar à zona de vinificação, depara-se com uma enorme tela exibindo projeções sobre o momento da colheita. Grandes janelas e varandas contornam o edifício, com vistas para as Serras do Caramulo e do Buçaco, ao fundo. A Icario, da família Cecchetti, em Montepulciano, mescla modernidade e arquitetura medieval à arte Por sua vez, a vinícola neozelandesa Elephant Hill, em Hawke's Bay, alinhou-se a uma perspectiva de sustentabilidade com a obra do arquiteto John Blair. Grandes janelas maximizam a luz natural e ajudam a poupar energia. E grandes painéis de cobre pintados de turquesa recobrem a fachada, resistindo à ação do sal marinho da costa de Te Awanga e se fundindo à paisagem. Ode ao passado Já para degustadores exigentes que prezam a arquitetura original das bodegas, ao norte deSiena e Firenza está a vinícola Antinori cujos rótulos estão entre os mais premiados e caros do mundo, com lances em leilão a cerca de 20 mil euros a garrafa. Localizada num antigo monastério na vila Badia A Passignano, a vinícola não investiu em melhorias na construção que existe há mais de 1.200 anos, mas a visita vale pela insígnia do tempo. Fundado em 395, o monastério foi reconstruído por Ruggero Buonedelmonti em 1266. No século 15, Domenico Ghirlandaio decorou o refeitório dos monges com um afresco que, na verdade, era uma de suas três representações da Última Ceia. Além disso, documentos cristãos apontam o edifício como lugar onde Galileo Galilei ensinou matemática de 1587 a 1588. O lugar só foi aberto ao público de 1987, quando Marchesi Antinori comprou os vinhedos em torno da abadia, esta ainda propriedade da ordem dos monges Vallombrosano. “O interessante da arquitetura rústica é que a produção e o envelhecimento dos vinhos ainda são feitos no subsolo, como quando os monges criaram o lugar. A visita é restrita, só para poucos. É preciso ligar e agendar antes”, comenta Adriana. Em Rioja, na Espanha, a López de Heredia é outro exemplo de tradição arquitetônica e enológica. Seu complexo de adegas propõe, por si só, uma imersão cultural. Cada cave subterrânea construída ao longo de cem anos, recebeu um nome evocando o passado como "La Bisiesta", "La Dolorosa", "La Bodega de Reservas", e "El Calado". A bodega Baigorri, em Samaniego, ao norte de Rioja (na Espanha), tem estrutura de zinco e vidro Embora a aparência exterior da bodega corresponda a uma ideologia específica e historicamente antiga, há um projeto cultural iniciado há décadas por seu fundador que inclui a preservação e restauro da coleção de relíquias e mobiliário a partir do início do século 20, como um mosaico criado em 1924 pelo pintor Alfonso Romero, além de documentos e material etnográfico sobre a história da bodega e dos vinhedos. Tudo ao alcance dos olhos e ouvidos dos visitantes. Latinas Em Mendoza, o espaço cultural Killka, na bodega Salentein, no Valle de Uco, entra na categoria das irreverências latinas. Concebido para criar um ponto de encontro entre os sentidos, através da combinação de vinho e expressões artísticas de todas as formas, Killka homenageia as origens andinas da região, ao combinar materiais brutos a uma sofisticada arquitetura, e reunir concertos de coros e música clássica e obras de uma série de artistas argentinos, convidados pelo grupo de proprietários holandeses da vinícola a construir o lugar a partir do zero. Lá estão expostas grandes esculturas de arte contemporânea argentina e holandesa nos séculos 19 e 20, com artistas renomados como Minujin, Jorge Gamarra e Eliana Molinelli. A galeria ganhou a medalha de ouro no concurso Wine Tourism, do Grande Wine Capitals Internacional, na categoria "Arte e Cultura", em 2009. |
Em Mendonza, a bodega Salentein, combina materiais brutos a uma sofisticada arquitetura
Neta do pintor Lothar Charoux, Monica Charoux conheceu recentemente a Salentein e a O. Fournier, ambas projetadas pelo escritório de arquitetura argentino de arquitetura Bórmida y Yanzón, conhecidos na região como os arquitetos do vinho. Ela ficou maravilhada com a proposta das duas casas e com as esculturas expostas ao ar livre, numa perfeita integração com a natureza, ao redor da adega Salentein.
Criada em 2000, a O. Fournier não tem um espaço especificamente dedicado à arte, mas uma cave principal, chamada Catedral dada sua aparência quase sacra. “E pela luz que entra no espaço em raios que sugestivamente se cruza num X luminoso”, conta Monica. A cena é uma alusão ao ícone gráfico que permeia a identidade visual da linha premium da vinícola. Lá são realizadas mostras temporárias de artistas plásticos internacionais pessoalmente convidados pelo fundador da bodega, José Manuel Ortega Gil.
Mas as surpresas vão além. No aspecto arquitetônico, a visita começa por descobrir o edifício à distância, tendo como pano de fundo as montanhas. Na sequência, no interior do edifício, uma porta automática posicionada no fim de um túnel se abre para a majestosa cave 10 metros abaixo da entrada. O tour termina retornando à superfície via uma passagem que serve como espelho de água para os Andes. Tudo digno de mais um brinde. Informações: Perla Rossetti, especial para o iG - Portal IG
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