quarta-feira, 28 de setembro de 2011

A alma encantadora das Ruas - João do Rio



"A rua é a civilização da estrada. Onde morre o grande caminho começa a rua, e, por isso, ela está para a grande cidade como a estrada está para o mundo. Em embrião, é o princípio, a causa dos pequenos agrupamentos de uma raça idêntica. [ ] Nas grandes cidades a rua passa a criar o seu tipo, a plasmar o moral dos seus habitantes, a inocular-lhes misteriosamente gostos, costumes, hábitos, modos, opiniões políticas. [ ] A rua fatalmente cria o seu tipo urbano como a estrada criou o tipo social. [ ] Oh! sim, a rua faz o indivíduo, nós bem o sentimos. [ ] As pedras! As pedras são a couraça da rua, a resistência que elas apresentam ao novo transeunte. [ ] As ruas são tão humanas, vivem tanto e formam de tal maneira os seus habitantes, que há até ruas em conflito com outras. [ ] No espírito humano a rua chega a ser uma imagem que se liga a todos os sentimentos e serve para todas as comparações. [   ]É quase sempre na rua que se fala mal do próximo. [ ] E é suave lembrar aquele sonhador que, defronte da janela da amada e desejando realizar o impossível para lhe ser agradável, só pôde sussurrar esta vontade meiga:

Se esta rua fosse minha

Eu mandava ladrilhar

De pedrinhas de brilhante

Para meu bem passar"

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