domingo, 28 de junho de 2009

Disse Tudo

De tudo que foi dito sobre Michael Jackson, Bruno Mazzeo, como sempre, conseguiu dizer tudo:
"THE ONE
Meu fim de tarde e boa parte da noite foi diante da TV, zapeando entre Globo News e CNN. Não fazia isso desde o atentado de 11 de setembro. Só tirava os olhos da tela pra trocar torpedos com amigos igualmente estupefactos. Tentei escrever no calor da emoção, mas as palavras não saiam, as idéias não se concretizavam, o raciocínio não seguia uma reta. O frio na barriga era maior que tudo. Vem aí um texto sem pé nem cabeça. Quase como a vida de Michael Jackson.Eu realmente não sei por onde começar nem que rumo dar a minha prosa. Mas a verdade é que eu não imaginava que a morte do ídolo pop fosse mexer tanto comigo. Aliás, eu não imaginava nem que ele fosse capaz de morrer. Sabe essas pessoas que a gente vê desde sempre e que quando “desaparecem” nos deixa uma sensação estranha? Sei lá, que uma página se virou também na nossa vida?
Quando pequeno era fascinado pelos clipes de “Thriler”, de “Bad”, sem saber que ali a música pop estava sendo revolucionada. Surgia o videoclipe, uma nova maneira de se vender música. A partir dali os artistas tinham que correr atrás e não dava mais pra ser apenas o registro de uma canção sendo tocada. Era mais. Tinha até Martin Scorcese dirigindo!
Surgia o Rei do Pop, o maior vendedor de discos da história (750 milhões não é pouco, não!), uma revolução na música, um negro ultrapassando a fronteira e, por que não, abrindo espaço pra toda uma geração que viria depois, incluindo a turma do hip-hop, hoje consumida também no “mundo dos brancos” graças ao crossover, à barreira rompida ali atrás por Michael Jackson.
Pô, o cara foi produzido por Quincy Jones! Fez – principalmente nos três primeiros discos, os dessa parceria – hits que animam qualquer festa até hoje. É quase uma regra. Se a pista começar a esvaziar é só soltar “Don’t Stop ‘Til Get Enough” que ela bomba de novo. E quem disser que nunca fez o “moonwalk” numa festinha - nem que seja de gaiatice – está mentindo.
Pura música de crioulo, digna de Marvin Gaye, Stevie Wonder, qualquer um desses gênios da soul music. Música de preto é que boa! Michael Jackson veio do meio deles. Aos 10 anos, cabelinho black power, já se destacava dentre os irmãos com The Jackson 5, ali entre as feras da Motown – o maior celeiro da música black. “ABC”, “I Want You Back”, “I’ll Be There”… um hit atrás do outro – junto com, dizem, uma surra paterna atrás da outra - até chegar a carreira solo no ano em que nasci, com o início da tal parceria com Quincy Jones.
A medida que ia deixando de ser negro, começava a descida da ladeira. E, sinceramente, agora não me interessa – e não sei realmente se um dia me interessou – se ele tinha vitiligo, se dormia numa bolha, se vivia operando o nariz por (falta de) estética ou pelo desvio do septo nasal… isso é o de menos. Já branco o cara ainda continuava produzindo e veio com aquele clipe histórico, a mega produção “Black Or White”, talvez sua última música realmente boa, em “Dangerous”, disco que traz também a suingadinha “Remember The Time”.
Lembro quando o clipe estreou no Fantástico, trazendo o recém-astro Macaulay Culkin. Quando começou também a história das criancinhas. Tudo nunca explicado, tudo muito comentado. A medida que seu nariz mudava de formato, que seu rosto se deformava, novos boatos surgiam. E numa época em que a indústria das fofocas de celebridades ganha cada vez mais espaço, foi lá que Michael passou a figurar com mais intensidade.
Isso agora pouco me importa. Se o cara vendeu milhões, ganhou mais de uma dezena de Grammys, se construiu uma roda gigante no jardim de casa, se faliu, se virou uma figura bizarra, se seduziu criancinha, se saía de máscara, se pirou, se vivia a síndrome de Peter Pan… não tô nem aí. São muitas as especulações, nenhuma certeza. Loucura, doença, traumas de infância… o que me interessa num artista é o legado que ele deixa. A obra. A história.
Pô, o cara foi parceiro de Paul McCartney! Depois deu uma volta e comprou os direitos das músicas dos Beatles. E mais tarde ainda casou com a filha do Elvis! Mais pop impossível.
Tão pop que, mesmo agora, mostrou sua força quando anunciou para este ano sua nova e saideira turnê (“This Is It”, literalmente traduzido como “É Isso”) e teve os ingressos para os 50 shows esgotados em minutos. Mais de 700 mil ingressos vendidos em menos de uma hora!
Sua saída repentina de cena (essa, a definitiva) pode ter sido mais uma estratégia de marketing. Fechar a cortina antes que o fim do poço não apresente mais uma mola. Quem sabe ele não está vivo e só resolveu se esconder pra evitar a derrocada? Como Elvis Presley (seu ex-sogro), Jacko talvez também não tenha morrido. Foi só dar um tempo na Terra do Nunca.
É de madrugada. Já dormi e acordei de novo. A TV está ligada na CNN, agora com depoimentos de amigos, parceiros, fãs, até Uri Geller já andou falando (é o mesmo Uri Geller ou só homônimo?). Realmente é difícil acreditar. Tem mortes que a gente simplesmente não espera. Me dá uma sensação do tempo passando. Quando criança jamais poderia imaginar que um dia Dr. Roberto Marinho morresse. Que um dia Dercy Gonçalves, Clodovil não estivessem mais entre nós. Muita gente vai entender o que eu estou querendo dizer.
Quer dizer… talvez nem eu saiba. Tento me inspirar ouvindo as músicas que tenho no meu IPod. Confesso que não são muitas. Bem menos que Beatles, Marley, Dylan ou Stones. Mas aí vem “Rock With You” e é suingue puro.
Não sou um especialista em música, um profundo conhecedor. Sou apenas um curioso, um fã, um “público comum”. Que estava no Morumbi lotado no começo dos anos 90, na pista, com amigos do colégio, me acabando de dançar diante do Rei do Pop. O que me dá hoje, nesse fim de tarde/noite/madrugada esquisitos, um certo consolo. Eu o vi ao vivo.

Pronto. No meu ITunes agora toca “Billie Jean” e é simplesmente avassalador. Vou desligar o computador, jogar a insônia pro alto e dançar sozinho na sala.
Discordo de quem andou dizendo que a partir de agora a música pop não será mais a mesma. A música pop já não é mais a mesma desde que surgiu o fenômeno chamado Michael Jackson.

PS: Parece que Jackson chegou no céu e perguntou aonde estava o Menino Jesus. E ouviu do anjo: “Ih, chegou tarde. Ele já tá com a Madonna."
Bruno Mazzeo
Fonte: Blog Bruno Mazzeo

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